eu fícus
Pasmo sempre quando acabo qualquer coisa. Pasmo e desolo-me. O meu instinto de perfeição deveria inibir-me de acabar; deveria inibir-me até de dar começo.Começo porque não tenho força para pensar; acabo porque não tenho alma para suspender.
Fernando Pessoa, Livro do Desassossego
fim, mas não finda.
uma série de obras de ilustração e pintura, onde a artista investiga através da observação da natureza cotidiana, que timidamente habita dentro do nosso lar, o efeito do tempo em nossos sentires.
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técnica mistas de pintura em diferentes superfícies como paredes, telas, tecido e estamparia digital.
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"Parto dos sentimentos que me dilaceram, subvertendo aquilo que é indigesto em cor e poesia. os sentires são cíclicos, entre movimentos de plantio, colheita e poda. aprendo a cada dia, que no tempo, tempoesia."
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cavo buracos,
reviro memórias,
alimento fantasias
em busca de quem estou.
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escrevo
no desejo compulsivo de sentir o agora.
me vejo a cores, mas só as vezes.
isso demanda tempo.
não sei quando vem.
aprendo a esperar. ficar.
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eu fícus.
aqui, sentindo o tempo.
nossos ciclos e movimentos.
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semeio, rego, sinto brotar.
e eu sinto realmente muito.
até perco o controle.
percebo que eu nunca o tive, na verdade.
eu acho graça. faço festa.
algumas folhas começam a cair.
podo galhos.
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com o tempo, novas folhas surgem.
dessa terra revirada, surgem brotares.
folhas nascem.
não aquelas, de antes,
mas novas folhas voltam.
com o tempo,
eu sinto que fícus.